sábado, 27 de junho de 2009

Ter saudade é vaga disforme de um corpo.
Ter saudade é pássaro que aparece e se apaga
erguido de confusão na angústia
teste dado à natureza bruxuleante dentro de mim.
Ter saudade é fingir qualquer coisa que inquieta,
levantada, desenterrada do crivo da memória.
Por vezes quando o tempo por ela passa não passa
o tempo da saudade, estátua rígida dum destino anoitecido,
passa um nada meio acontecido.
Saudade, é filha da alma do mundo que de tanto ser outro sou eu já.
Saudade, porque viajas cansada em horas dentro de mim?
Saudade que vieste até à última força desta linha, brumosa da eterna caminhada.
Sempre que vieres sem avisares leva-me contigo para que a paz volte à memória de meu corpo como o rio que passa no tempo final da minha natureza.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

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